ARTIGO

Sejamos todos humanistas!

Cultura&Realidade - 03 de Março de 2020

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Ilustração/Redes Sociais

Arlicélio Paiva*

Desde muito jovem eu defendo o direito de igualdade entre mulheres e homens. Muito tempo depois é que eu fui saber que essa atitude era chamada de feminista.  Portanto, aqui estou me apresentando como um feminista! Para isso, eu vos convido – sejamos feministas!

Antes de tratar sobre o feminismo, eu gostaria de abordar sobre o “humanismo”. Embora esse termo seja amplamente aplicado, ele é mais conhecido como um movimento intelectual filosófico originado na Europa no século XV, que defende o direito do indivíduo apossar-se da própria vida, ser dono das suas escolhas e ter controle do seu comportamento. No entanto, aqui utilizo o termo “humanismo” em um sentido mais amplo, valorizando o ser humano – homem e mulher – acima de tudo. Tratando-o como semelhante, com direitos iguais, embasados na justiça, igualdade, dignidade, respeito e independência. Como muito bem disse o escritor Augusto Cury – “O conhecimento humanista produz ideias. As ideias produzem sonhos. Os sonhos transformam a sociedade...”. E eu tenho a esperança da transformação do comportamento social para melhor, com direitos iguais entre mulheres e homens, apesar das estatísticas estarem cada vez mais apontando o domínio do comportamento machista sobre o feminista.

Muita gente não entende o significado de “feminismo”, imaginando que seja um comportamento da mulher, oposto ao “machismo”, com as mesmas discriminações. Outras pessoas não aceitam que mulheres e homens tenham direitos iguais e passam a combater o feminismo com veemência. Veem o feminismo como uma ameaça, em vez de ajudar na luta para corrigir séculos de injustiça imposta pelo comportamento sexista.  Confundem o feminismo como uma rebeldia da mulher que se recusa a ser feminina, que não quer usar maquiagem e nem se depilar e que abomina os homens.

O machismo é um comportamento do homem, tentando ser superior em relação à mulher, procurando manter-se acima da mulher, não pela competência, mas, sim, querendo impor à mulher uma condição de inferioridade pelo fato de ela ser mulher! O machista se sente incomodado com o sucesso profissional de uma mulher e não aceita que ela ganhe o mesmo salário quando ocupa a mesma posição de um homem. Ele tenta reduzir a mulher a um objeto sexual, não a considerando como uma pessoa semelhante e que tem os mesmos direitos dele. Nos casos extremos, infelizmente, cada vez mais crescentes no Brasil, o machista comete feminicídio, assassina a mulher apenas pelo fato de ela ser mulher e não atender aos seus caprichos.

O feminismo, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, defende que mulheres e homens tenham os mesmos direitos sociais, econômicos e políticos. Durante muitos séculos as mulheres foram inferiorizadas, sem direito a sair de casa, a ter uma vida pública, a estudar, a votar, a exercer determinadas profissões, ficando completamente submissas aos seus maridos. Lamentavelmente, ainda existem regiões onde essas atrocidades ainda ocorrem.

Precisamos continuar defendendo a igualdade de direitos entre mulheres e homens! As conversas devem ocorrer desde criança. Precisamos discutir a esse respeito em todos os lugares, principalmente em casa, no trabalho e nas escolas. Um bom exemplo desse diálogo é o proposto pelo Colégio Vitória de Ilhéus que seguiu a indicação do governo federal, por meio do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) para obras pedagógicas e literárias, adotando como recurso paradidático o livro “Sejamos Todos Feministas”, de autoria da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Nesse livro ela relata as experiências vivenciadas em seu país e que servem como uma boa reflexão sobre o assunto. As escolas têm como prática a adoção de temas atuais, extracurriculares, para aprofundar as discussões entre os alunos e facilitar a aprendizagem a respeito de assuntos importantes, que servem para a formação do caráter e da personalidade deles e dão oportunidade para que eles próprios tirem as suas conclusões. Como bem disse Carl Rogers – “Não podemos ensinar a outra pessoa diretamente; só podemos facilitar sua aprendizagem”.

Lembra-se do convite que fiz no início deste texto para que você também defendesse o feminismo? Você pode declinar! Se você procura “Amar ao próximo como a ti mesmo”, respeitar e tratar as pessoas com dignidade, você é humanista! E o humanismo vai muito além do feminismo! Sendo assim, sejamos todos humanistas!

Arlicélio Paiva, professor doutor da UESC, Ilhéus, Bahia.